Viva rápido, morra jovem e deixe um belo cadáver

>> quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Estou numa fase literária portuguesa. Tenho 3 livros do Saramago em cima de minha escrivaninha e ainda tem mais um a caminho, portanto se em algum momento, umas quanta luzes de sintaxe elementar com as elásticas subtilezas dos tempos verbais, não soarem tão português ora pois, já sabem o motivo! Aproveito a demanda e indico um livro fantástico, exorbitante e ao mesmo tempo surreal.

Para quem não conhece o estilo literário de Saramago, a primeira vista pode parecer um texto corrido, sem pausas contextuais. Mas tudo isso é proposital, Saramago não pontua nenhum de seus diálogos, os intercala com vírgula, e quase não usa pontos, a não ser em suas crônicas, nem parágrafos, o que pode fazer de uma única frase quase uma página inteira, ou seja, VOCÊ dita o ritmo da sua leitura da maneira q vc quiser, pontuando onde acha que pode ou não. Tudo é uma questão de hábito! Se eu me habituei (e desisti) ao estilo literário de Stephen King (que usa a narrativa descritiva a enésima potencia, e descreve um vento passando por uma janela em 3 páginas), vc tb consegue com o Saramago!

As Intermitências da Morte.

O que vc faria se no dia seguinte do Reveillon de 2007, à 00:00 do dia 01 de janeiro de 2008 ninguém morresse? Nem os doentes terminais, nem os velhos esperando a vida acabar, nem os suicidas, agonizando por toda eternidade com seu espírito preso a carne e quem sabe uma bala na cabeça? Vc ser atirado do 18º andar se transformar numa pasta de carne moída disforme VIVO? Imagina a dor infinita, se é que vc ainda tem cérebro com terminações nervosas que ligam aos sensores de dor, mas ainda preso a matéria? E se no mundo inteiro morressem normalmente, apenas um único país (abençoado por Deus?) houvesse imortalidade? Quer dizer que se eu passar da fronteira com o outro país eu posso morrer? Se meu estado é terminal e me levarem até lá é homicídio ou pena capital? Se eu for sozinho é suicídio? O que as pessoas dirão se eu levar meu pai?

Se sou imortal, para que eu tenho seguro de vida? Aliás, de que serve as funerárias para os imortais? Quer dizer que só os seres HUMANOS não morrem? As plantas e animais continuam morrendo? Então as funerárias enterrarão meu hamster? Como o Seguro Social pagará para os aposentados ad eternum? Como avós, bisavós, trisavôs, tetravôs, pentavós continuarão recebendo seu seguro? Se meus avós nunca morrem porque me preocupar com sua vida ou sua saúde, física ou mental? Como poderei ficar doente se os hospitais estão lotados de morto-vivos?

Mas se só no nosso país somos imortais quer dizer que fomos abençoados? Nosso país é ÚNICO no mundo? Abaixo os inimigos da vida, já que nós nem a morte tememos! Somos os escolhidos de Deus? Afinal, existirá Inferno, Purgatório e Paraíso? Se não morremos, que diferença faz ouvir isso da Igreja? Se não ressuscitaremos nem reencarnaremos, para que acreditar em qualquer religião? O que aconteceu com a Morte? Porque ela parou de Matar? Será que se aposentou? Mudou de ramo? Agora planta rosas para que crie a vida? Mas ela não está conosco no nascimento, quando surgimos, e quando morremos, e retornamos para lugar de nossas origens? Será q nunca mais voltaremos para nossas origens, se é que elas existem? Estou fazendo as perguntas erradas? A morte conhece tudo a nosso respeito e talvez por isso seja triste. Mas como um esqueleto com uma capa preta e uma foice pode ficar triste, com os olhos nublados de lágrimas? Ou será que A Morte, no feminino do singular seja feminina? Será que deu uma pausa para o café? Será que está de férias em Bora-Bora e tirou uma “siesta” mais prolongada? Não, impossível.

A Morte nunca dorme...

Faça as perguntas certas, sinta a imortalidade na pele, na mente, na imaginação e leia o livro! ;-)

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